Globo, 60 anos: livros jogam luz sobre episódios nebulosos

07/04/2025 | Folha de S.Paulo

No mês em que a Rede Globo completa 60 anos, chegam às livrarias dois livros dispostos a jogar luz sobre episódios nebulosos, embaraçosos e desconhecidos da história da emissora.

“A Globo – Concorrência: 1985-1998” dá seguimento à narrativa iniciada com a publicação de “Hegemonia: 1965-1984”, no qual o jornalista Ernesto Rodrigues documentou como a emissora em poucos anos conquistou a liderança do mercado de TV no Brasil. No segundo semestre deve sair “Metamorfose”, que cobrirá o período entre a virada do século e o início da década de 2020.

Se, no primeiro volume, Rodrigues classificou a relação de Roberto Marinho com a ditadura militar como de “subserviência imposta”, neste novo livro ele mostra como o dono da Globo e seus herdeiros colocaram voluntariamente o jornalismo da emissora a serviço de seus interesses políticos, tanto na transição para a democracia quanto nos governos Sarney, Collor, Itamar e FHC.

O apoio ao Plano Cruzado, mesmo sabendo que ele fazia água, ajudou o governo Sarney a ter uma vitória eleitoral e provocou uma greve no jornalismo da Globo no Rio. O entusiasmo de Marinho com Fernando Collor e a edição criminosa do último debate com Lula (“o serviço mais sórdido que fiz na minha vida”, segundo o editor de texto Octavio Tostes) são descritos em detalhes, com uma profusão de fontes.

O outro livro que aproveita a onda dos 60 anos da Globo é o segundo volume da biografia de Roberto Marinho escrita pelo jornalista Leonencio Nossa.

Em 2019, ele publicou “O Poder Está no Ar: Do Nascimento ao Jornal Nacional”, informando que ainda faria um segundo volume. Os planos aparentemente mudaram, pois o livro que está saindo agora, “A Globo na Ditadura: Dos Festivais às Bombas no Riocentro”, está sendo anunciado como o segundo de uma trilogia.

Ao longo de 600 páginas, o autor mais de uma vez justifica a subserviência de Marinho com a ditadura como “medo de perder a concessão” da TV Globo. E descreve o empresário como alguém que sempre se posicionou ao centro do espectro político.

“A Globo na Ditadura: Dos Festivais às Bombas no Riocentro” detalha a conflitante relação de Marinho com Armando Falcão, ministro da Justiça, e com Euclides Quandt de Oliveira, ministro das Comunicações, ambos no governo Geisel. Também mostra o empresário em ação como operador político, num encontro com o ex-presidente Médici, para falar sobre ações da extrema direita que buscavam boicotar a promessa de abertura política.

Leia mais (04/03/2025 – 7h00)